Wednesday, June 06, 2012

Todos os Lados

Em que lado do muro será que ela estava? Penso ao ver uma pessoa que considero ter mais de 35, 40 anos. Poder fazer essa pergunta instigou-me a querer falar alemão enquanto em Berlin. Não que me garantisse as conversas que esperava, porque ao menos em inglês o povo não me pareceu muito de papo. Também não posso falar muito pois meu contato com o povo germânico nessa cidade se resumiu basicamente ao carinha da oficina de bici. 

Vi-o praticamente todos os dias. Por mais que pretendesse ou tentasse, não consegui nenhuma abertura. Até fiz um ou outro comentário que considerava piadinha, mas não obtive reações. Em que lado do muro ele estava? Não podia parar de pensar. E não sabia nem se ele era de Berlin. O benefício da dúvida? Há tempos não estava nessa situação onde uma pergunta do tipo, de onde você é? soasse como invasão de privacidade, muito inapropriada. Foi só no último dia e por um pouco de sede que perguntei algo do tipo:
 podemos beber água da torneira por aqui? (Não tava afim de ir no super) Resposta monosilábica positiva. Ao menos um problema (a sede) estava resolvido. Porém, não tenho porque e nem posso reclamar. No seu silêncio, foi extremamente eficiente. Cuidou super-bem da minha bici. Não tive nenhum problema com ela.

O silêncio não vinha só dele mas da cidade como um todo. A vida certamente seguiu com força, quase um milagre ver esse povo tão viçoso e essa cidade tão elegante e eficiente depois de quase 85% ter sido destruída pela guerra. Não só isso, foram 4 guerras, tantas atrocidades. Em meio aos monumentos, aos espaços vazios que ainda existem, o silêncio berra alto, eu o escuto. Esse se justifica e se entende, acima de tudo se respeita. Não se anula com tijolo, ouro ou quinquilharias. Música, poesia, arte certamente ajudam. Que a paz serena o vá completando, e enquanto isso viva-se festejando, que bom que não há mais muro!

No comments: